Os fluidos refrigerantes são parte integrante (e fundamental) para o funcionamento dos sistemas de climatização e refrigeração. Eles têm evoluído ao longo do tempo, especialmente em busca de maior eficiência energética, segurança nas operações e, mais recentemente, em função do impacto ambiental.
Os primeiros fluidos desenvolvidos eram do tipo CFCs, com alto potencial de destruição da camada de ozônio (ODP) e alto potencial de contribuição para o aquecimento global (GWP). O uso de fluidos com essas características foi proibido a partir da assinatura do Protocolo de Kyoto, quando foram substituídos por fluidos refrigerantes do tipo HCFCs, com baixo potencial de ODP, embora ainda com alto GWP.
Para substituir os fluidos do tipo HCFCs, a partir do Protocolo de Montreal (1985), do qual o Brasil também é signatário, foram desenvolvidos os HFCs, que apresentam zero ODP, mas ainda alto GWP. Fluidos desse tipo também já estão sendo proibidos, especialmente na América do Norte e Europa, e, a partir do Protocolo de Kigali, têm sido substituídos por fluidos do tipo HFOs, com zero ODP e baixo GWP.
Além dos mencionados, existem também os fluidos chamados “naturais”, como amônia, propano, butano e CO₂, que foram os primeiros fluidos utilizados e apresentam boas condições de sustentabilidade e eficiência energética. No entanto, são fluidos que exigem maiores cuidados no projeto, instalação e manutenção, especialmente para garantir a segurança dos sistemas e dos operadores/usuários.
Desde o Protocolo de Montreal, a pauta visando à proteção da camada de ozônio e à redução do efeito estufa tem provocado mudanças nas legislações, produtos e serviços. Um exemplo é a indústria de cosméticos, que deixou de utilizar CFCs na composição de seus produtos.
No mercado de HVAC-R, não é diferente. Os gases utilizados nos circuitos de refrigeração, desde geladeiras até chillers dos sistemas centrais, vêm sendo alterados. Em 1996, o uso dos refrigerantes R11 e R12 (CFCs) foi proibido, sendo substituídos pelo R22 (HCFC), que terá “phase-out” até 2030. Nos últimos anos, o mercado tem utilizado o 134A e o 410 em substituição ao R22, mas esses também já têm prazo para serem retirados de circulação.
Além dessa “sopa de números e letras”, é sabido que os fluidos refrigerantes que substituem os anteriores podem trazer perda de eficiência térmica se implantados em equipamentos antigos. No passado, quase todos os fabricantes utilizavam o mesmo tipo de refrigerante, mas esse consenso já não existe mais, pois a presença de novos fluidos acompanha quase de imediato o lançamento de novos produtos.
Além de considerar a eficiência como um fator de cuidado com o planeta, surgiram duas novas métricas importantes para avaliar os fluidos refrigerantes:
•ODP, que mede o potencial de destruição da camada de ozônio, variando de 0 a 1. Quanto menor o número, menor o impacto.
•GWP, que mede o impacto no aquecimento global, sendo 1 o valor de referência.
O mercado de refrigeração e ar condicionado responde por aproximadamente 82% do consumo de HCFCs, que, como mencionado, terão menor disponibilidade com a proximidade da data limite. Portanto, as mudanças de refrigerante em um retrofit ou nova instalação são certas, e todos os interessados no futuro do planeta precisam entender as soluções que o mercado está propondo.
Assim, todas essas evoluções implicam em transformações para o mercado de HVAC-R na totalidade. Desde projetistas, instaladores e fornecedores, até os clientes, todos precisarão conduzir atualizações (ou até mesmo substituições) em seus sistemas já instalados.
Embora as condições específicas de cada sistema devam ser consideradas, os principais fatores na tomada de decisão são:
•Em casos de retrofit, buscar a compatibilidade do novo fluido com os sistemas já existentes;
•Verificar a facilidade de acesso ao novo fluido e sua disponibilidade no mercado;
•Analisar os custos de implantação e a eficiência energética relacionada;
•Considerar as necessidades operacionais do cliente;
•Avaliar a manutenção preventiva, especialmente em sistemas que utilizam fluidos tóxicos, inflamáveis ou com altas pressões.
Em 26 de maio de 2022, a Câmara dos Deputados aprovou a Emenda de Kigali no Brasil. O tratado agora precisa ser ratificado pelo Senado Federal, mas já representa um importante passo rumo a uma economia sustentável. O mercado de HVAC-R tem trabalhado para buscar soluções de maior eficiência energética e sustentabilidade, preservando a segurança das operações e a confiabilidade dos sistemas.
A SMACNA e todas as empresas vinculadas são parceiras de todo o setor e buscam sempre os melhores resultados para seus clientes, além de apoiar o desenvolvimento do setor de HVAC-R rumo a um futuro mais sustentável e eficiente.
Autor: Eng. Ariel Gandelman
Revisão Técnica: Comitê de Artigos Técnicos SMACNA Brasil
Revisão de Texto: Ana Del Mar